A tragédia matou 270 pessoas, incluindo duas grávidas. Dois anos depois, os bombeiros ainda buscam os corpos de dez vítimas que seguem desaparecidas, e a falta de água potável compromete, silenciosamente, a vida de famílias que vivem no entorno do Paraopeba e a renda de pequenos produtores. E traz e sofrimento psicológico.
"Nossa água antes vinha de um poço artesiano que hoje está contaminado porque está perto do rio", explica Lúcia. "Não temos uma gota na nossa caixa d'água", conta aos prantos.
Um levantamento obtido com exclusividade pela DW Brasil, feito pelo Instituto Guaicuy - uma das três assessorias técnicas independentes nomeadas pela Justiça para apoiar moradores de áreas impactadas pelo desastre na busca por reparação -, mostra que o volume de água distribuído pela Vale está dez vezes abaixo das necessidades mínimas dos atingidos.
Segundo o dado mais atual divulgado pela mineradora, foram fornecidos 353 milhões de litros de água para consumo humano até 9 de dezembro de 2020. A população afetada na bacia do Paraopeba, por outro lado, necessitaria de pelo menos 3,1 bilhões de litros para sobreviver nesse mesmo período.
As projeções, feitas a partir dos dados do Censo e do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, apontam pelo menos 28 mil pessoas sem rede de abastecimento, que dependem diretamente ou indiretamente do rio. Segundo a média de consumo de água de cada município atingido, a demanda diária dessa população seria de 4,5 milhões de litros. A Vale forneceu por dia cerca de 517 mil litros.
A recomendação atual dos órgãos ambientais é que a água do Paraopeba não seja usada sob hipótese alguma. Concentrações de metais como chumbo, manganês, ferro e mercúrio são monitoradas e atingem níveis preocupantes para a saúde humana de acordo com a estação chuvosa, apontam boletins do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam).
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